Quem vê o Rio do Colégio nos dias atuais não imagina que a localidade passou por uma grande tragédia. Esse mesmo rio calmo e quase seco de hoje em dia em alguns pontos subiu tanto que arrastou casas, moinhos, engenhos, cafezais e animais. Várias pessoas morreram. Estima-se em 36 o número de vítimas. Em alguns pontos, o Rio do Colégio subiu “50 palmos acima de seu nível”. Era 20 de março de 1873. Os únicos relatos dessa tragédia ocorrida há 145 anos estão nos livros “Subsídios para a História dos Campos dos Goitacases”, de Julio Feydit, que está no acervo da Biblioteca de Campos, e no “História da Cidade de São Fidélis”, do Padre Frei Jacinto de Palazzolo, que encontramos na Biblioteca de São Fidélis.
De acordo com Julio Feydit, o jornal da época, o Cruzeiro do Sul, informou que durante a tragédia houve um grande deslizamento de terra que atingiu a residência de um fazendeiro, conhecido como Constanncio Stellet. Oito pessoas morreram. Apenas uma mulher e uma criança conseguiram sobreviver. O livro relata ainda que oito pessoas, de uma mesma família, despareceram. Ainda de acordo com o livro, uma parte do morro, onde morava a família do senhor Joaquim Mariano, soterrou um escravo e dois mil pés de café. Em um outro deslizamento, parte das senzalas que ficavam próximas a casa de Luiz Venancio foram destruídas. Dois escravos morreram e muitos ficaram “contusos”, como diz o livro. Um outro desmoronamento levou cerca de 4 mil pés de café. O livro de Julio Feydit relata que o moradores da cidade vizinha, Campos dos Goytacazes, acompanhavam a passagem daquilo que o Rio do Colégio carregou e foi parar no Rio Paraíba do Sul, como pontilhões, cancelas e animais.
“O rio Paraíba recebeu em seu leito todos esses despojos, e suas águas ficaram tingidas pelo barro vermelho dos morros que foram arrastados de envolta com casas, pontilhões, cancelas e animais, que passavam em frente à cidade de Campos, com grande admiração dos seus habitantes, os quais ainda ignoravam a catástrofe havida a 7 ou 8 léguas retiradas de Campos.”, diz um trecho do livro. Já o livro História da Cidade de São Fidélis relata que o Rio do Colégio subiu 15 metros com a tromba d’água que atingiu a localidade. “A enchente constituiu verdadeira calamidade pública causando desmoronamentos na zona rural do Rio do Colégio”, diz o livro. O livro relata ainda que houve três grandes enchentes em São Fidélis. Uma em 1833, a de 1873, que atingiu o Rio do Colégio, e a de 1905, quando o Rio Paraíba, segundo o livro, inundou a cidade. O tráfego na estrada de ferro ficou paralisado durante um mês.