Na última semana, um novo caso de tentativa de suicídio evidenciou a estatística preocupante na qual nossa região está inserida. Entre setembro e dezembro do ano passado, foram registrados quatro suicídios na região. Três das vítimas eram jovens, com menos de 23 anos. Os casos foram registrados em Cambuci, Pádua e Cantagalo, além das diversas tentativas, registradas inclusive em São Fidélis. O assunto é delicado e ainda é considerado um tabu. Mas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos poderiam ser evitados com ajuda psicológica, o que evidência a necessidade do diálogo sobre o tema.
“Precisamos desmitificar os “mitos” sobre o suicídio, de que “quem ameaça não faz”, de que não devemos falar sobre o assunto” – afirma a psicóloga Giulia Florêncio. Segundo ela, quem pensa em se matar dá sinais, como isolamento, abuso de substâncias, frases de quem não vê mais sentido na vida. “Não há um único fator capaz de responder pela tentativa ou pelo ato suicida, porém existem os chamados fatores de risco como tentativas prévias, ausência de vínculos familiares e social, abuso de substâncias psicoativas, desemprego, etc” – explica.
A psicóloga fala ainda sobre alguns grupos que devido ao preconceito, violência ou fatores psicológicos são mais vulneráveis: “Comunidade LGBT, as vítimas de violência doméstica e aqueles diagnosticados com doenças mentais, usuários de drogas, ou seja, grupos que não têm espaços para expor suas vozes e se defenderem. Porém, vale salientar que a causa pra alguém tentar acabar com a sua própria vida é subjetiva, multidimensional”. O suicídio pode ou não estar ligado à depressão, ressalta Giulia. “Não necessariamente uma pessoa que se mata tem depressão, apesar de existirem muitos casos de pessoas que tinham essa doença e se mataram. Quando isso acontece, não quer dizer que a pessoa deseja acabar com a vida, mas sim com o sofrimento que não consegue suportar” – ressalta.
Ela explica que na sua forma mais grave, a depressão pode levar ao suicídio e no Brasil, 11,5 milhões de pessoas sofrem com essa doença. Giulia reitera que a tentativa de suicídio é um pedido de socorro e fazer juízos de valor, condenar e banalizar a dor do outro só agravará o quadro. Quanto à prevenção, a psicóloga afirma que deve ser feita através de espaços de diálogo, para identificar esses sinais e dar suporte. O apoio de familiares e amigos também é fundamental nesse momento difícil.
“A maneira de ajudar é incentivar que essas pessoas busquem ajuda profissional. Em casos de emergência, é indicado que procurem os serviços de saúde como CAPS, pronto socorros, além de ter o CVV, que é o centro de valorização da vida, que dá suporte voluntariamente a todas as pessoas que precisam conversar, sob total sigilo, por telefone ou chat. O telefone de contato do CVV é 188”. Giulia orienta para que a família esteja sempre presente, proporcionando um diálogo aberto e acolhedor e que essas pessoas sejam assistidas por profissionais qualificados. Para finalizar, a psicóloga deixa a reflexão, “O que o sujeito que tenta o suicídio deseja matar?”.