Lama da tragédia em Mariana pode comprometer qualidade da água, praias e até temperatura

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Foto: Christophe Simon/AFP | Destaque:Fred Loureiro/Secom-ES.

Os prejuízos ambientais causados pela tragédia em Mariana (MG), no início do mês, estão longe de chegar ao fim. As toneladas de lama que vazaram de duas barragens da empresa Samarco e devastaram o distrito de Bento Rodrigues, contendo  sessenta bilhões de litros de rejeitos de mineração de ferro, foram despejados por mais de 500km na bacia do Rio Doce, a quinta maior do país, que está totalmente comprometida. E a grande preocupação da vez é a chegada do lamaçal ao Oceano Atlântico, na costa do Espírito Santo, prevista para a próxima sexta-feira.

Segundo a presidente do Ibama, Marilene Ramos, podem acontecer vários novos impactos, como: contaminação da foz do rio, ambientalmente sensível e com áreas de reprodução de tartarugas e de formação de ninhos de aves; ameaça às espécies de peixes na zona costeira; falta de água em Colatina (ES); impactos nos reservatórios de usinas hidrelétricas; e contaminação de unidades de conservação. Estes impactos seriam equivalentes a novas multas milionárias à Samarco, que na semana passada já foi multada em R$ 250 milhões pelo Ibama.

— A lama poderá chegar de forma mais amortecida (ao mar), mas alguma coisa vai chegar, certamente. Estamos nos preparando para o pior, que é chegar um nível de turbidez elevado e isso impactar na ictiofauna, na fauna que vive nessas áreas úmidas, ou até uma impossibilidade de captação e abastecimento de água em Colatina — disse Marilene.

Dependendo de como a lama chegará ao Oceano, poderá inclusive afetar a qualidade das praias da região, inclusive a de Guarapari, no Espírito Santo, que recebe muitos turistas de municípios do Rio de Janeiro no verão. Para o biólogo André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, a lama já deveria estar sendo retirada do Rio Doce.

– Se chover muito pode chegar a 10 km de cada lado (margens do Rio Doce). Dependendo da quantidade de chuva, o lençol freático será atingido, tornando imprópria para consumo toda a água da região. Já era pra ter centenas de caminhões sendo utilizados na retirada desse material. A maior biodiversidade do mundo está em Guarapari, que pode acabar sendo afetada, até o norte do estado. Essa região faz a fixação de 15% de gás carbônico do planeta, temos o maior banco de algas, calcário e corais do mundo. Se isso tudo morrer, a temperatura do planeta pode aumentar em até dez graus, e os peixes que conseguirem sobreviver não poderão ser consumidos. – disse o biólogo.

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