O interior do Estado do Rio de Janeiro está literalmente em chamas. Segundo um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros a pedido do SF Notícias (veja o levantamento completo no final da matéria), já são 1.056 focos de incêndio em vegetação registrados entre janeiro e agosto desse ano só nas regiões Norte e Noroeste Fluminense. O número é ainda maior, já que o levantamento foi feito apenas com dados de ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros. Em Miracema, por exemplo, os incêndios são combatidos pela Defesa Civil. Altas temperaturas, tempo seco, baixa umidade do ar, e para piorar, a fumaça dos incêndios em vegetação. Isso é o que os moradores de várias cidades da região estão enfrentando nesses últimos dias de inverno. Na maioria dos municípios do Norte/Noroeste e Região Serrana, a estação teve temperaturas acima da média e chuva muito abaixo do esperado para esta época do ano. Com a vegetação seca, alta temperatura, baixa umidade e o vento, pequenos focos de incêndio se tornam enormes problemas, pois as chamas se alastram rapidamente. Alguns desses fatores também dificultam a dispersão da fumaça, que quando inalada, prejudica extremamente a saúde. (continua após a publicidade)
“Em primeiro lugar as queimadas só ocorrem porque existem três fatores combinando, o iniciador, isto é uma fagulha ou até mesmo um cigarro aceso. O outro fator é o clima seco, e em terceiro lugar o alimentador para o aumento da área de queimada que é o vento” – explica o biólogo especialista em análises clínicas e imunologia, Luiz Carlos Duarte Pessanha. O especialista ressalta que a inalação da fumaça provoca alergias respiratórias, que podem variar de gravidade conforme a pessoa, se agravando em quem já possui doenças respiratórias ou alérgicas. “A fumaça é resultado de combustão, carrega nela várias partículas nocivas. Então a baixa umidade é sem dúvida um fator que agrava o quadro. É por isso que é aconselhável beber mais água e se possível dormir com uma vasilha de água no quarto. A baixa umidade favorece o aparecimento de doenças respiratórias e mesmo quem está longe do foco pode ser atingido porque tem o fator vento que leva a fumaça” – esclarece. (continua após a publicidade)
O biólogo explica ainda que quando inalada, a fumaça provoca imediatamente um processo inflamatório nas vias aéreas altas e baixas, que dependendo da quantidade, pode levar a insuficiência respiratória leve, aguda ou até mesmo a uma parada respiratória. “Podem ocorrer outras consequências a longo prazo como mudança no DNA das células dos pulmões e morte das mesmas, inclusive podendo levar a um câncer” – ressalta. Segundo o ambientalista Arthur Soffiati, as queimadas eliminam a vida microbiana do solo e também invertebrados que não podem fugir do fogo. Queimam plantas e animais maiores, contribuindo para a redução da biodiversidade e para o ressecamento. O fogo pode até mesmo contribuir para lançar espécies a risco de extinção. As queimadas liberam gases que, inalados pelas pessoas, podem causar problemas bronco-pulmonares, principalmente em pessoas que sofrem de asma e bronquite. (continua após a publicidade)
De acordo com o levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros, Campos, Itaperuna e Itaocara são os municípios com maiores registros de incêndios este ano. Em Campos foram 215 ocorrências até agora, seguido de 160 em Itaperuna e 158 em Itaocara. Este último município está em alerta máximo por conta da estiagem. Segundo o coordenador de Defesa Civil, Alex Campos, não cai uma chuva significativa na cidade desde junho. Cerca de 519 hectares já foram destruídos pelas chamas. O maior incêndio foi em uma área entre Batatal e Porto Marinho, onde as chamas destruíram 120 hectares. Em São Fidélis, que também está em alerta máximo, o levantamento aponta que já foram registradas 49 ocorrências de incêndio em vegetação entre janeiro e agosto. Na “cidade poema” não chove há mais de 100 dias. O número é ainda maior, já que o levantamento não conta as ocorrências de setembro. Neste mês um grande incêndio destruiu uma imensa área que pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio do Colégio (reveja AQUI). (continua após a publicidade)
No levantamento, além das três cidades citadas acima, Santo Antônio de Pádua aparece em quarto lugar, com 98 ocorrências de incêndio em vegetação já registradas. Depois aparecem os destacamentos de Guarus (Campos) e Natividade, ambos com 68 ocorrências. A lista segue com Italva (67 ocorrências), São João da Barra (66), Bom Jesus do Itabapoana (65 ocorrências), São Fidélis (49) e Cambuci, com 42 ocorrências. Fora do levantamento, por não ter unidade do Corpo de Bombeiros, Miracema já registrou 114 focos de incêndio que destruíram mais de 95 hectares.