Com tecnologia nacional, pesquisadores do RJ criam soro contra a Covid-19 e esperam autorização para testar em humanos

Soro é feito a partir do plasma de cavalos, que apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo vírus. Após autorização da Anvisa, 41 pacientes internados serão voluntários

Um soro desenvolvido por pesquisadores do Instituto Vital Brazil a partir do plasma de cavalos para tratamento contra a Covid-19 está muito próximo de ser testado em humanos, em pessoas que estão internadas lutando contra a doença. A criação do soro começou no final de maio do ano passado por pesquisadores do Instituto Vital Brazil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já em agosto, eles anunciaram a descoberta que os anticorpos de cavalos apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo vírus do que os plasmas de pessoas que tiveram a doença, tratamento também em estudo, chamado de “plasma convalescente”. Os cavalos não ficam doentes, mas reagem, produzindo grande quantidade de anticorpos que neutralizam o vírus. Segundo o Instituto, depois de 70 dias, os plasmas de quatro dos cinco cavalos do Instituto, inoculados com a proteína S recombinante do coronavírus, produzida na Coppe/UFRJ, apresentaram anticorpos neutralizantes mais potentes contra o novo vírus do que os plasmas de pessoas que tiveram a doença. A partir de equinos imunizados com a glicoproteína recombinante da espícula do vírus foi criado então o soro anti-SARS-CoV-2. As pesquisas feitas em cavalos aconteceram na fazenda do instituto localizada em Cachoeiras de Macacu, no interior do Rio de Janeiro. O soro do Instituto Vital Brazil passou por testes in vitro, ou seja, em laboratório, que comprovaram que o medicamento bloqueou a ação do vírus. A fase agora é delineamento dos protocolos clínicos, junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para, assim que possível, iniciar a etapa de testes clínicos em humanos. Assim que autorizada, a testagem do novo medicamento será feita em 41 pessoas em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).

Pesquisadores do Instituto Vital Brazil (IVB) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) respondem às últimas demandas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o pedido de ensaio pré-clínico do novo soro equino contra a Covid-19. Desse modo, esperam que ocorra em breve a liberação para o início dos testes em humanos, que serão realizados em parceria com o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa. A pesquisa já foi aprovada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisas (Conep). Além disso, há um ensaio semelhante sendo aplicado na Argentina. O ensaio pré-clínico prevê em sua estratégia duas fases para avaliar a eficácia e a segurança do tratamento a partir da aplicação do soro em pacientes hospitalizados e com sintomas leves. O estudo tem previsão para ser concluído em três meses e, durante esse período, serão avaliados tempo de internação, reações adversas, curva de redução de infecção pelo vírus, número de pacientes que necessitarão de intubação, índice de mortalidade e outros aspectos.

O Instituto Vital Brazil possui know how em produção de soros hiperimunes a partir do plasma de cavalos há mais de 100 anos. Desde que o seu fundador, Vital Brazil Mineiro da Campanha, desenvolveu o método para o tratamento dos acidentes ofídicos, as etapas de pesquisa e desenvolvimento avançaram na produção de soros. “A soroterapia é um tratamento bem-sucedido, usado há mais de um século contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos como aranhas e escorpiões. O uso potencial da imunização passiva por esse tipo de terapia representa um caminho viável de combate à Covid. Os soros produzidos pelo Instituto Vital Brazil têm excelentes resultados de uso clínico, sem histórico de hipersensibilidade ou quaisquer outras eventuais reações adversas há décadas”, explica Luís Eduardo Cunha, pesquisador do Vital Brazil. A pesquisa do soro anticovid-19 recebeu aportes financeiros da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Governo Federal.

Além disso, haverá o investimento de recursos adicionais a fim de que o Instituto Vital Brazil aumente a produção de soro, a UFRJ e a Fiocruz analisem a eficácia do soro e da neutralização do vírus, e o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa realize os ensaios clínicos. Para isso, serão empregados cerca de R$ 2,3 milhões da Faperj e de 1 milhão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Segundo o presidente da Faperj, Jerson Lima Silva, os recursos disponibilizados irão permitir grande avanço na produção de soros hiperimunes contra a Covid-19. “Esse programa tem o mérito de reunir pesquisadores de renome de diferentes institutos de Ciência e Tecnologia, trabalhando em conjunto com os pesquisadores do Instituto Vital Brazil para dar um salto tanto na produção do soro quanto no desenvolvimento dos ensaios clínicos necessários para seu o uso futuro no tratamento de pacientes”, disse.

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