Arthur Soffiati vai lançar livros sobre o Norte do RJ no século XVI e introdução de espécies exóticas na região

Mestre e doutor em história ambiental pela UFRJ, Soffiati é um dos mais respeitados ecologistas brasileiros
Fotos: Divulgação

Mestre e doutor em história ambiental pela UFRJ, Aristides Arthur Soffiati Netto lança na noite desta sexta-feira (20/09) mais dois livros que retratam a história da região Norte Fluminense. O lançamento acontecerá a partir das 19h, no Museu Histórico de Campos dos Goytacazes, localizado à Praça São Salvador, no Centro. Em ‘O Norte do Rio de Janeiro no Século XVI’, o autor tenta arrancar dos arquivos históricos as poucas informações da região estudada, no propósito de verificar os motivos de desinteresse por ela no século XVI. De acordo com Soffiati, o Norte Fluminense conheceu apenas uma tentativa de colonização europeia, promovida por Pero de Gois na margem direita do rio Itabapoana junto à foz.

Donatário da Capitania de São Tomé, ele fundou a Vila da Rainha e o porto de Limeira, em 1538, entretanto a iniciativa teve vida curta. O autor relata que a região ficou abandonada até 1632, quando chegaram os Sete Capitães, iniciadores de uma colonização contínua. Enquanto isso, os europeus fundaram colônias nas quatro partes do mundo. Eles chegaram até o Japão, as Filipinas, a Índia e a Malaca. De São Paulo a Pernambuco, vários núcleos europeus foram fundados e continuaram a existir.

Já o livro ‘Introdução de Espécies Exóticas no Norte do Rio de Janeiro’, reúne ensaios sobre a formação geológica, as espécies nativas de vegetação e de animais, os povos indígenas que primeiro chegaram à região e a única tentativa oficial de fundar uma colônia portuguesa. Segundo o historiador ambiental, as fontes mais informativas são as cartas náuticas, mas restaram poucas informações de viajantes, que temiam pôr os pés no continente por causa dos povos indígenas que a habitavam. Eles eram conhecidos como o “povo mais cruel do mundo”. 

“Os europeus espalharam vírus, bactérias, protozoários, fungos, plantas e animais pelo mundo a partir da expansão marítima. Espécies europeias foram trazidas para o Brasil, mas, da América, os europeus levaram espécies para a África e Ásia. Na verdade, a partir do século XV houve uma grande circulação de espécies pelo mundo todo. O norte-noroeste fluminense não ficou de fora. Sabemos que a colonização da região começou com o boi e a cana. Sabemos que a ferrovia e a rodovia não foi invenção dos índios. Sabemos que usinas, navios, trens, automóveis, energia elétrica, máquinas, grandes portos não foram criados pelos povos nativos da América, mas que vieram da Europa diretamente ou dos Estados Unidos, uma espécie de Europa na América” – relata o autor.

Ele ressalta ainda que não reparamos plantas ou pequenos animais que estão em toda a parte, que não sabemos se os capins dos pastos vieram da Ásia ou da África e ignoramos que baratas, lagartixas e ratos não existiam na América antes dos europeus. “Também não sabemos que a seringueira, o jacarandá, o abacaxi, o tomate, a batata inglesa, o amendoim são plantas nativas da América levadas para várias partes do mundo. O livro procura mostrar que espécies vegetais e animais contribuíram para a colonização, assim como a cana, o boi, a escravidão, as usinas, as cidades, os automóveis e tantas outras coisas” – informou.

Soffiati afirma ainda que, embora estejamos cercados, na América, no Brasil e no norte-noroeste fluminense, por organismos de procedência europeia, africana e asiática, nossa convivência secular com eles nos levam a acreditar que a maioria tem uma origem nativa. “Não é de se estranhar que especialistas e leigos conheçam mais espécies exóticas do que nativas. A maioria da população brasileira nunca viu um exemplar de peroba-de-campos, de tamanduá-bandeira ou de lontra, entre tantas outras espécies nativas, nem mesmo encarceradas em zoológicos, onde é mais comum exibirem elefantes, tigres, leões, panteras, camelos, rinocerontes, hipopótamos etc. À medida que as espécies nativas foram sendo eliminadas e expulsas para lugares remotos, espécies exóticas foram tomando seus lugares e passaram a integrar nosso cotidiano” – explica.

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