Aos 26 anos, jovem de São Fidélis lança seu primeiro livro, o suspense “O Mortiço”

Em 2019, Júnior Persí participou da Bienal da União Nacional dos Estudantes, na Bahia, onde foi incentivado a se dedicar à carreira literária
Fotos cedidas pelo autor

Em fevereiro de 2019 o morador de São Fidélis, no Norte Fluminense, Antônio Roberto Persí da S. Júnior, mais conhecido como Júnior Persí, de 26 anos, viveu a experiência de participar da Bienal da União Nacional dos Estudantes, realizada na capital da Bahia, Salvador. Na ocasião, ao participar de um sarau, recebeu reconhecimento de autores presentes, que o incentivaram a investir na carreira literária. O incentivo continuou após o evento, levando o fidelense a escrever, ao longo daquele ano, o seu primeiro livro. Apesar da familiaridade com a poesia, Persí se aventurou no gênero suspense e lança nesta segunda (22) o livro “O Mortiço”. O histórico artístico e o profissionalismo empregado no projeto, que vai além da história, e inclui o design da capa, playlist, entre outros detalhes, levaram o livro a ser aprovado pela editora Autografia. Além da editora, o autor destaca o apoio que está recebendo do Instituto Federal Fluminense e de UNE (União Nacional dos Estudantes). A expectativa era lançar o livro físico na tradicional Festa de São Fidélis, entretanto, devido à pandemia do novo coronavírus ele investiu na versão e-book (digital), que já está disponível para compra. Confira a entrevista exclusiva concedida pelo fidelense ao SF Notícias: (após a publicidade)

  •  Como está sendo para você poder lançar um livro tão jovem?
    Sinceramente, sinto que eu deveria ter lançado um livro antes. Principalmente porque esse meu primeiro livro, o suspense O Mortiço, é de um teor um tanto quanto profético. A literatura, muitas vezes, funciona como um reflexo da realidade. Eu escrevi O Mortiço ao longo de 2019 e percebi que se o mundo continuasse do jeito que estava, ele acabaria virando uma realidade semelhante a apresentada na distopia do meu livro. E, surpreendentemente, até mesmo para mim, esse meu livro que foi terminado em dezembro de 2019 apresenta uma atmosfera com muito do que estamos vivendo no mundo atualmente. Seja a nível ambiental, social, seja no jeito que as relações interpessoais e de poder se dão. Por isso digo que sinto que eu deveria ter lançado O Mortiço antes, pois o que tive muito em mente ao escrevê-lo foi a vontade de avisar que o jeito que o mundo estava caminhando, não chegaria a um bom lugar. Mas, de qualquer forma, O Mortiço apresenta uma atmosfera ainda muito mais ácida do que a atual realidade. As reflexões propostas pelo livro são valiosas e de extrema urgência. Ainda temos muito a aprender para que o mundo não piore ainda mais.
  •  A pandemia de fato transformou as formas de nos relacionarmos e principalmente o nosso cotidiano. Em meio a esse cenário envolto em sentimentos como ansiedade e medo, os diversos tipos de arte podem ser aliados, se tornando uma válvula de escape. Como é para você poder contribuir através do seu livro?
    Eu não estou aqui apenas pelo meu livro. Eu estou aqui pela leitura. Vejo que muitas pessoas estão focadas em lives, em filmes e séries. A leitura também é uma forma de entretenimento. Quando assistimos um filme, por exemplo, muita coisa vem pronta, temos a visão de alguém sobre algo. Já quando lemos, criamos em nossas mentes sensações e lugares únicos que só nós podemos criar, que são só nossos. Quando lemos, nós pensamos, questionamos. No momento em que estamos vivendo, pensar, questionar é extremamente necessário. Vira e mexe eu vejo que algumas pessoas têm postado leituras. Mas será que as pessoas precisam mesmo “atravessar o Oceano Atlântico” para buscar uma poesia de Fernando Pessoa? Será que perto de nós não temos autores e obras interessantes? Bem, cada um faz o que quer. Cada um lê o que quer. Só estou pontuando que São Fidélis é a Cidade Poema por um motivo. Temos obras e autores e únicos. Independentemente de como as pessoas estão se entretendo nessa pandemia, o que importa é que quem puder, fique em casa. Vejo que muitos artistas estão se empenhando para entreter as pessoas nessa quarentena. Fico feliz em perceber que muitos estão dando mais valor à arte. Logo a arte tem ajudado tanto para que todos sintam alívio. Logo a subestimada e, por vezes, não valorizada arte. Coronavírus não controla a arte. Ai de nós se controlasse.
  •  Acredito que todo escritor ao colocar seu dom em prática tem uma intenção. Gostaria de saber qual a sua com o livro, se há um público específico que gostaria de atingir.
    A minha intenção é atingir os mais variados públicos. Não por mim, mas por todos, pois quando estamos conectados, somos mais fortes. Há tempos precisamos de união e força. O Mortiço é um livro em que a fragilidade humana é muito presente. A minha intenção é fazer com que as pessoas percebam que por mais diferentes nós sejamos, a nossa fragilidade é algo em comum e indiscutível. A estratégia do livro para que haja tal percepção é uma leitura na primeira pessoa do presente onde o público sente na pele a atmosfera onde vive o personagem principal. Se colocando no lugar do Oscar, é possível refletir sobre as situações impostas e ter as mais variadas sensações vividas por ele. Isso tudo alinhado com uma narrativa distópica que coloca em pauta reflexões sobre os rumos do mundo. A minha intenção é sacudir os leitores como quem quer acordá-los. Pois é… São muitas intenções.
  • Enfatizando o fato de residir em uma cidade interiorana, onde muitas vezes o sonho de fazer algo como publicar um livro pode ser considerado “inalcançável”. Qual mensagem você deixa para aqueles que no momento desejam algo parecido. Principalmente por ter conseguido com um longo ano de dedicação e persistência.
    Tudo é possível! E sou a prova viva disso. Faço parte de tantas minorias que poderia fazer uma lista… E mesmo assim obtive conquistas que até pessoas mais privilegiadas não alcançaram. Eu não vejo muito como uma questão de mérito e sim de perspectiva. Sempre que eu via um obstáculo, instantaneamente passava a vê-lo como uma vitória a alcançar. Quando o mundo caiu em volta de mim, eu pensei “Isso não é um desastre. É um convite para uma aventura!”. Nada na minha vida foi fácil. E não é agora que vai ser! Mesmo depois de mais de um ano envolto com o projeto do livro, é agora que começa o trabalho de divulgação. Com a divulgação, muitos leitores terão contato com o livro. Com o público tendo contato com o livro, muitas correções serão descobertas e precisarão ser feitas. E ainda tem a segunda edição do livro que já está sendo preparada… O que é fácil não te faz crescer, pelo menos não na mesma intensidade que a dificuldade. O ramo da arte é árido! E ainda há quem veja o duro trabalho artístico como hobbie e não como trabalho. Com a literatura não é diferente. Mas as editoras estão sempre de portas abertas para pessoas que têm boas histórias. Não há limites! Só nós somos responsáveis pelo que nos limita. As montanhas que nos cercam são só montanhas, não são grades.

“O Mortiço” – sinopse:
“A aridez climática, que em um primeiro momento pode parecer mera ambientação inicial, acompanha o personagem principal em toda a trajetória, dando o tom de seu ritmo e, por sua vez, de seu cansaço. É um bafo vertiginoso para experiências aterradoras e intensas, que são impregnadas por cores neutras. Bege, branco, cinza, marrom e preto pintam roupas, lugares e objetos. Das cores neutras ao quente vermelho, que atravessa a seco o cotidiano de Oscar, passando pelo frio verde, que extravasa do fundo de uma garrafa. Desse jogo sinestésico, percorremos as páginas do suspense ‘O Mortiço’ inebriados por mudanças bruscas na vida de Oscar e pela busca que ele trava por aquela que finca seu pé em chão estável: Alicia! O suspense de Antônio Júnior Persí apresenta uma narrativa que mostra um homem que tem um fim a alcançar, mas os meios utilizados para chegar a esse ponto de certeza são escorregadios. A narrativa é construída como se Oscar estivesse sob o fio da navalha, em que vida e morte, lixo e luxo, pobreza e riqueza estão lado a lado em movimento alucinatório. Por ironia, ou por ingenuidade, Oscar vai tentar resgatar um elo com seu passado sem ser descoberto justamente em um lugar, onde drogas, castigos e miséria sustentam uma rede de poder que vai muito além de um bloco de concreto. Em um lugar onde há vidas possíveis, assujeitadas a humilhações mil, que abastecem aqueles que mandam e controlam os desejos alheios. Num lugar que pretende oferecer saídas, seja pela ilusão do alcançar o objetivo, seja pela concretude do esvaziar os corpos. É um beco. Ou melhor, um grampo escatológico. E é irrespirável. ” – Talita Vieira Barros, jornalista e professora do curso de Letras do Instituto Federal Fluminense Campus Campos Centro
Onde comprar: Amazon, Livraria Cultura, Saraiva, Apple Store, Google Play e Kobo.
Ouça a playlista AQUI ou AQUI.
Página do autor (também para compra do livro físico): Facebook ou Instagram.

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