
Homens da 134ª Delegacia de Polícia Civil de Campos, voltaram no início da tarde deste domingo(27), ao cativeiro e à fazenda onde quatro homens eram mantidos em situação análoga à escravidão em uma casa na localidade de Angelim, terceiro distrito de São Fidélis.
Na noite de sexta-feira(25) uma das vítimas, que era de São Fidélis, conseguiu fugir e foi até a casa do sobrinho que fica cerca de 10 km do local, e de lá, o sobrinho foi com ele até a 141ª Delegacia Legal no centro de São Fidélis e comunicou o fato.
Uma operação envolvendo policias da 141ª e da 134ª DP foi montada para resgatar as outras três vítimas na tarde de ontem(26). Reveja a matéria AQUI.
Em depoimento, as vítimas Roberto de Oliveira, de 36 anos, Davi Pereira Ferreira, 38 anos, ambos de São Fidélis, Cirlei Rodrigues Moreira, de 36 anos, de Itaperuna e Romério Mota Rosa, de 26 anos, morador de Campos (Foto Acima), disseram que recebiam ameaças quando manifestavam o desejo de ir embora, e um deles disse que foi agredido várias vezes. A última vítima a ser recrutada, passou oito anos no cativeiro e o mais antigo, 14 anos.
Em depoimento, o proprietário da fazenda, Paulo Cesar Azevedo Girão, de 58 anos, disse que pagava cerca de R$ 50,00 reais pelos trabalhos, mas as vítimas disseram que nunca receberam nada.
Em entrevista coletiva, o delegado adjunto da 134ª DP, José Paulo Pires, disse que ao chegar à fazenda, encontrou o proprietário, o filho e o caseiro logo na entrada do sítio. As vítimas estavam escondidas em uma vala atrás de um monte de areia.
“Toda vez que alguém chegava à fazenda, eles eram obrigados a se esconder”, disse o delegado.
Já em entrevista a nossa equipe, o delegado disse que as vítimas eram transportadas de carro do cativeiro que fica na localidade de Angelim até a fazenda; e que três vizinhos serão intimados para comparecerem à delegacia a fim de prestarem depoimento.
“Eles tomavam café, almoçavam e jantavam. Às 4h da madrugada eram levados para a fazenda, pelo capataz, e só retornavam às 17h direto para o quarto onde ficavam trancados”. enfatizou Paulo Pires.
“A polícia vai buscar uma instituição de atendimento que possa dar suporte às vítimas, pois elas precisam de atendimento social e psicológico”. concluiu o delegado.
No local onde funcionava o cativeiro, que fica ao lado da casa do caseiro Roberto Melo de Araújo, de 38 anos, encontramos o senhor Manoel Ferreira, pai de uma das vítimas. Segundo o senhor, a mulher do caseiro recebia sua pensão, e que o filho morava no Rio e tinha conseguido o emprego no local. O senhor disse que não sabia que o filho não recebia.
O delegado disse que o senhor também foi funcionário da fazenda, mas como ficou cego, não foi mais obrigado a trabalhar.
Nossa equipe acompanhou um perito da Polícia Civil que foi até o local na noite de ontem(26), constatando a precariedade do local. No imóvel havia apenas duas camas e um colchonete, além de um armário, um banheiro e uma pia com uma grelha de churrasqueira em cima. O imóvel se quer possuía uma geladeira e um fogão.
As vítimas não possuíam carteira assinada e não recebiam nada pelo trabalho, além de viverem numa situação sub-humana, recebendo uma ou duas refeições por dia. O cenário encontrado hoje, era pior do que o de ontem, pois não dava para perceber o que mais tinha no local. Muita sujeira e até um local onde estavam porcos, foi encontrado.
O proprietário da fazenda, Paulo Cesar Azevedo Girão, de 58 anos, o filho Marcelo Conceição Azevedo Girão, de 33 anos, e o empregado Roberto Melo de Araújo, de 38 anos, vão responder por crime de restrição a condição análoga a de escravo e podem pegar de dois a oito anos de reclusão.
Fotos: Vinnicius Cremonez/Carlos Grevi Ururau