Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Fotos: Divulgação
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O que é a vida real? O que podemos definir como real? Seria o que conseguimos ver, o que é palpável… enfim, muitas são as definições para a realidade e hoje vamos falar um pouco sobre isso: Como digerir o real de maneira menos dolorida, como olhar a vida com outros olhos, fazendo com que a concretude dos dias seja mais suave e leve.

Um dos maiores motivos que me levou a seguir a carreira nas artes, seja no teatro, cinema ou TV, foi a dificuldade que sempre tive de lidar com a vida real, tudo sempre pareceu muito cruel pra mim, tudo muito cinza, rude, cansativo… doloroso. Não tive uma infância traumática, nem fui um adolescente com crise existencial, mas tenho a total consciência de que sempre precisei (e preciso) de subterfúgios para encarar a realidade, que sempre me deixa desconfortável. A verdade é que, a arte me leva para lugares onde tudo parece ter mais sentido, onde a vida passa de maneira mais gostosa e as coisas se resolvem como num passe de mágica.

Não sou psicólogo, nem filósofo.. Não vou entrar nas questões subjetivas que me levam a essa “scape” da realidade, apenas gosto e pronto. Sempre entendi a vida e as pessoas de um jeito mais simples através da arte, continuo aprendendo a lidar com o mundo e com essa grande engrenagem a qual fomos submetidos, estando em contato direto com o mundo lúdico, onde tudo faz muito mais sentido do que a crueldade, egoísmo, e massacre dos sonhos a qual a realidade nos submete todos os dias… Vou parar por aqui, pois me vem a imagem aniquiladora do sistema escolar, onde é aceitável fazer com que todos pensem da mesma forma anulando assim as manifestações pessoais deSMB_04780_R_copy cada indivíduo ali sentados… Mas isso é outra história, deixemos para outro momento!

Comecei falando sobre isso tudo porque assisti essa semana ao filme “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” (Saving Mr. Banks) e me trouxe inúmeras reflexões sobre essa forma da arte colorir a realidade para que tudo seja mais fácil de ser absorvido. O filme conta a história de como o gênio Walt Disney (Tom Hanks) conseguiu os direitos para produzir o clássico Mary Poppins. Dentre tantos filmes que marcaram a minha infância, lá está Mary Poppins, ele representa muito pra mim, sou completamente apaixonado pela Julie Andrews, pelas músicas, pelos efeitos e principalmente pelo roteiro e depois de assistir esse filme, tudo fez muito sentido agora, já fazia antes de conhecer a “real história”, mas agora tudo ficou mais profundo e significativo.

Bem, se você não conhece Mary Poppins, tudo isso não deve fazer muito sentido pra você, se você conhece e se lembra, vale a pena assistir ao filme que estou me referindo na coluna de hoje, pois irá descobrir entre outras coisas, que a babá que chegou voando de guarda chuva em Londres, na Rua das Cerejeiras número 17, não veio para salvar as crianças e sim o pai da família, que por consequência foi o pai da autora que criou a história e a grande protagonista do filme. Na vida real, o fracassado banqueiro no interior da Austrália, é o Sr. Banks das suas histórias, a aSaving-Mr.-Banks-2utora Pamela Lyndon Travers (Emma Thompson) criou Mary Poppins para salvar o triste homem que morreu de pneumonia quando ela tinha apenas 8 anos. Daí já podemos perceber o que eu disse inicialmente sobre a arte colorir a realidade para que tudo fique menos doloroso, começa a fazer mais sentido, não é mesmo? E quem poderia fazer isso com maior maestria do que ele, o Walt Disney?!

A relação íntima da autora com a sua criação é o principal conflito entre ela e o próprio e Walt Disney, que por 20 anos, tentou comprar os direitos de adaptação ao cinema, buscando cumprir uma promessa feita às filhas. Porém, independente dessa promessa, ele muito visionário, sabia o que essa história poderia se tornar, e se tornou. Sem dinheiro e com medo de perder a sua casa, a escritora disse “talvez” em 1961, aceitando viajar a Hollywood para ver de perto os planos do estúdio. Ela só assinaria o contrato depois de aprovar o roteiro.

Quando o filme começa, nossa primeira reação é odiar a escritora, pois ela tem grande rejeição a tudo que a Disney representa e faz com que as coisas pareçam medíocres e artificiais, “Cheira a suor e cloro”, é o que ela diz ao simpático motorista (Paul Giamatti) quando ele diz que o dia amanheceu belo em Los Angeles para recebê-la. Aliás, a relação dela com o motorista é muito sutil e bonita, ao ponto dela dizer que ele foi o único americano que ela havia gostado.

Ela gravava todas as reuniões que fazia com os roteiristas e músicos do filme, contestando cada canção, cada virgula,Cinemascope-Walt-nos-bastidores-de-Mary-Poppins4 cada detalhe que pudesse transformar Mary Poppins em uma boba alegre. Isso vai se quebrando no decorrer do filme quando ela vai entrando em contato com sua real história, justificando assim, para nós conhecedores de Mary Poppins, cada trecho, cada parte, cada frase do filme de 1965. Além de conhecermos um pouco também da história do próprio Walt Disney, quando ele tenta pela última vez a assinatura dela pelos direitos da obra.

Parabéns Walt Disney pela intuição e pela persistência… A vida é dura, amarga, mas depois desse filme, mais do que nunca a canção “Uma colher de açúcar ajuda o remédio descer” nunca fez tanto sentido pra mim. Definitivamente Mr. Banks está salvo!!

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