A natureza é imprevisível. O dia que amanhece ensolarado pode terminar com uma forte tempestade. Nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, a natureza causou estragos na Região Serrana e mesmo após seis anos, as marcas da tragédia ainda permanecem naqueles que a viveram.
A enfermeira Celma Maria Soares, com 33 anos na época, viu de perto os acontecimentos que hoje marcam a memória de todo o país. Ela relembra os momentos de pavor vividos enquanto trabalha como voluntária em um abrigo de Nova Friburgo.
Segundo ela, o primeiro ponto da tragédia aconteceu na noite do dia 11, quando um prédio caiu no bairro Olaria. “Eu estava trabalhando no momento e acompanhamos pela TV. No fim do expediente, minha chefe me levou até a casa de uma amiga, era umas 20h e chovia muito forte” – relembra.
Ao amanhecer, Celma se aprontou e saiu para trabalhar, entretanto como estava em um bairro que foi pouco atingido, ela não fazia ideia do que havia acontecido em outros pontos da cidade: “No amanhecer acordamos para trabalhar e meu amigo disse: “Vai pra onde? O mundo acabou ai pra baixo” – lembra. Ela conta que a rua era um rio negro, criado pela água da chuva e destroços.
O desastre aconteceu em um terça-feira e somente no sábado a enfermeira conseguiu ir para casa. “Quando consegui ligar pra casa, meu marido disse que só tinha bolinho de trigo com água e sal para comer. Consegui ir até lá só no sábado levar alimentos. Abençoe meus filhos e voltei para ajudar os desabrigados”.
No abrigo, Celma acompanhou histórias de pessoas que perderam a família e tudo que tinham. “Lembro de tudo. De mães chorando pelos filhos que perderam, de pessoas vagando em meio a lama sem destino, dos preços altos dos alimentos. A história q mais me comoveu foi de um menina do interior, um lugarejo chamado Pilões. O pai dizia que o sonho da família era andar de de avião ou helicóptero, no dia da tragédia eles foram tirados por uma rede presa a um helicóptero” – conta.
As perdas familiares e entre amigos também marcaram a vida da enfermeira, que tem família em São Fidélis. “Perdi um tio, com filho e esposa. Um casal de amigos tinha duas filhas gêmeas. Na noite do dia 11 elas resolveram ver filme até tarde e dormiram na sala. Quando o dia clareou, não havia mais sala, nem as meninas”.
Até hoje a chuva causa medo e preocupa “Ontem deu um temporal forte aqui, até hoje nada foi feito. Qualquer chuva alaga tudo e quando chove não dormimos”. Um balanço de vítimas publicado em março de 2011, registrou 918 mortos, 100 desaparecidos e 34.600 pessoas desabrigadas. Os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis registraram o maior número de mortos. 67.288 pessoas ainda moram em áreas de risco nesses três municípios.