São Fidélis: ambiente, economia e perspectiva de desenvolvimento

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Fotos: Aristides Soffiati / Vinnicius Cremonez

O SF Notícias começa a exibir hoje, um artigo feito pelo ambientalista Aristides Arthur Soffiati, onde ele fala sobre o ambiente, a economia e a perspectiva de desenvolvimento de São Fidélis. Dividimos o artigo em duas partes; essa que você está lendo agora, e a parte que será publica amanhã.

Por suas características geológicas, São Fidélis deveria fazer parte da região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro e não da região Norte Fluminense. Porém, a cana-de-açúcar levou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a inseri-lo na microrregião homogênea açucareira de Campos. Elevada a cidade em 1850, São Fidélis, embora na zona cristalina, fica a 15 metros de altitude, pouco mais que a altitude de Campos, localizada na planície aluvial à jusante. Na área do seu território, com 1.030 km2, há, porém, altitudes bem mais elevadas na Serra do Mar, à margem direita do Rio Paraíba do Sul. Sua população alcança a cifra de quase 40 mil habitantes.

Bases ambientais e culturais
Aspectos geológicos e geomorfológicos. O recorte territorial de São Fidélis estende-se na zona cristalina, que data de era pré-cambriana, com mais de 600 milhões de anos de idade, portanto. As maiores elevações situam-se pela margem direita do Rio Paraíba do Sul, onde a Serra do Mar rebaixa-se abruptamente e permite a passagem do mencionado rio. Pela margem esquerda, as elevações são modestas, citando-se a Serra do Sapateiro. Mencione-se ainda, por sua configuração, o Morro Peito de Moça, entre a Serra do Mar e o Paraíba do Sul.

Com altos e baixos, o terreno tende a apresentar declive em direção a Campos até Itereré, onde finda o embasamento cristalino e começa a planície aluvial e uma pequena porção de tabuleiro. No geral, a margem esquerda do rio apresenta terras muito desgastadas por ação das intempéries e solos autóctones originalmente ricos, hoje empobrecidos por usos predatórios.

1Rios
O Noroeste Fluminense não conta com lagoas, exceto a Lagoa Preta, em Miracema, ao que tudo indica uma lagoa formada por represa antiga e abandonada. O mais importante rio é o Paraíba do Sul, que, em São Fidélis, recebe, pela margem, direita, os Rio Dois Rios (o maior de todos os afluentes dentro do município), o Rio do Colégio e o Rio Pedra d’Água, todos eles provenientes da Serra do Mar. Tanto pela margem direita quanto pela esquerda, há uma série de contribuintes de pequeno porte normalmente denominados valões, vários deles secos ou intermitentes por ação humana.
No Rio Paraíba do Sul, merece destaque o estirão outrora navegável entre a foz e o Salto, primeiro desnível significativo no curso do rio, mesmo assim vadeável a canoas. No passado, ele era singrado por vapores que faziam o trajeto entre Atafona, na foz, até a cidade de São Fidélis, com a finalidade de transportar passageiros e, principalmente, mercadorias. Seu leito mostra-se também bastante largo, comportando ilhas cristalinas e bancos de areia (coroas), estas segundas na estação da estiagem.
O Rio Dois Rios, formado pelo Grande e pelo Preto, drena a vertente interior da Serra do Mar, tanto quanto o Rio do Colégio, ambos apresentando acentuado declive.

Vegetação nativa

Jorge Pedro Carauta e Elizabeth de Souza Ferreira da Rocha (“Conservação da flora no trecho fluminense da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul”. Albertoa, vol. 1, nº 11. Rio de Janeiro: Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente, 1988) observaram com propriedade que o Rio Paraíba do Sul, no norte-noroeste fluminense, separa dois ecossistemas vegetais do bioma atlântico. Pela margem direita, espraia-se a floresta ombrófila densa, que domina a vertente interior da Serra do Mar até próximo de 1700 metros de altitude, onde se encontra um dos dois campos de altitude da região: a Pedra do Desengano. O outro localiza-se no Pico do Frade, em Macaé. A floresta ombrófila densa é o hábitat da orquídea Laelia fidelensis, espécie oficialmente ameaçada de extinção, e explica-se pela maior umidade, já que a Serra do Mar serve como anteparo às nuvens que se formam sobre o mar e são empurradas para o continente, onde são barradas pela topografia acidentada e se condensam na forma de chuva. Uma parte das águas corre pela vertenteexterna do maciço por meio de vários pequenos rios, sendo coletada pelo Rio Imbé e conduzida para a Lagoa de Cima e, desta, para a Lagoa Feia, pelo Rio Ururaí. O único rio que desce por esta vertente e desembocava, facultativamente, no Rio Paraíba do Sul, é o Preto.

2Já na margem esquerda do Paraíba do Sul, em todo o noroeste fluminense, estende-se uma imensa planura até o maciço da Mantiqueira. Nela, as baixas altitudes não retêm satisfatoriamente as nuvens sopradas do mar pelos ventos. O resultado é uma adaptação da mata atlântica a um período com déficit hídrico na estação seca, resultando num tipo de floresta denominado de estacional semidecidual, vale dizer, que sofre influência da falta de chuvas e perde de 20 a 50% de suas folhas.

Fauna nativa
Viajantes europeus e brasileiros dão conta de uma variada fauna no passado. Nos rios, além de uma diversidade de espécies de peixes, destacavam-se a Lagosta de São Fidélis (Machrobrachium carcinus), camarão-de-unha, manjuba, cágado de hogei, piabanha, tatus, preguiças, tamanduá-mirim, pacas, lontras, onças, cachorro-do-mato-vinagre, raposa-do-campo e tantos outros que contribuíam para uma rica biodiversidade faunística.

Povos nativos
Manoel Martins do Couto Reis (1785) e Maximiliano de Wied-Neuwied (1815) registraram a presença dos índios Puris em São Fidélis, que, aliás, começou sua vida como redução indígena pela ação dos padres Vitorio de Cambiasca e Ângelo de Luca, vindos da Itália. José Ribamar Bessa Freire e Márcia Fernanda Malheiros (Aldeamentos Indígenas do Rio Janeiro. Rio de Janeiro: UERJ, 1997) explicam que os índios a habitar o território entre os Rios Pomba e Muriaé faziam parte do grupo Puri, como os coroados, os Coropós, e os Guarus.

Amanhã estaremos publicando a segunda parte do artigo, onde você vai poder saber um pouco mais sobre a agricultura, apicultura, pecuária e a conquista e a colonização européias no território de nossa região.

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