Neto Potiguar – a revelação de um rapper fidelense que protesta através da música e poesia.

Para uma cidade que tem o topônimo que a referencia como “Cidade Poema” e  nomes que se destacaram como Antônio Roberto Fernandes e Sebastião  Fernandes,(que recebeu prêmio Machado de Assis) com a obra Cuité, no século  passado, entretanto, atualmente, um nome tem sido destaque por unir ritmo e  poesia com extrema criatividade com base numa visão crítica e questionadora sobre  a própria realidade dos problemas vivenciados no dia a dia nessa mesma cidade,  onde a arte urbana e a poesia o inspiram.  Trata-se de Neto Potiguar, um  jovem de apenas 21 anos, estudante de Ciências Sociais, e que nas horas vagas,  quando não está estudando ou trabalhando, encontra-se escrevendo, tocando,  skateando, grafitando ou declamando através da musicalidade no melhor do estilo  MC repentista, seus versos poéticos e questionadores, os quais têm sido  destaques nas redes sociais e o mesmo tem sido apelidado como “Neto pensador”.

Um vídeo postado no youtube com uma gravação inédita de um  dos trabalhos do artista tem chamado a atenção, bem como compartilhado por  centenas de internautas. Gentilmente, em entrevista concedida a repórter Nelzimar Lacerda, Gilberto de Oliveira Neto (popular Neto Potiguar) disse que,  infelizmente, a falta de uma política cultural no município faz com que os  jovens fiquem cada vez mais alienados por conta de uma política de  entretenimento que só oportuniza favorecer a políticos que se elegem com base  na “política do pão e circo”.  E as consequências para essas crianças,  jovens e adolescentes, são desastrosas por conta da ausência de projetos  culturais que poderiam contribuir para uma melhor formação e desenvolvimento de  sua identidade ou afinidade cultural, e, assim, não se tornariam presas fáceis  para o submundo das bebidas e drogas, conforme se tem visto o alto índice de  crescimento na cidade.

Nelzimar – No atual momento em que explode por todo país as manifestações  que demonstram a insatisfação por parte do povo com a classe política, como  você avalia essa situação também demarcada em São Fidélis com relação aos  problemas locais que, muito antes da pequena manifestação por parte de um grupo  embalado pelo clamor das manifestações nas capitais, resolveu ir para rua.  Porém, você já vem há muito tempo através da junção poesia e música,  protestando sobre os problemas locais. Como tudo isso começou?

Neto – Simplesmente, a partir do momento em que eu comecei a observar,  questionar e incomodar por querer saber o porquê das coisas não funcionarem na  nossa cidade como deveriam. Daí também percebo um  povo omisso, passivo  que não cobra e só sabe reclamar e não faz nada. Um povo que usa o voto como  moeda de troca por conta de cargos temporários, bem como àqueles que só querem  levar vantagens, que não respeita às leis e, sequer são educados, como por ex.,  no trânsito da cidade e etc. Então, comecei a presenciar e conviver com todo  esse tipo de coisa e, assim, me enclausurava no meu quarto para escrever e pôr  para fora toda minha indignação através da arte como forma de protesto tendo em  vista que eu já me encontro nesse processo de manifestação há muito tempo, de  forma que tenho escrito bastante e divulgado meus trabalhos nas redes sociais que,  para mim, tem sido essencial poder soltar o verbo e falar com naturalidade  sobre os fatos que ocorrem diante dos meus olhos e que não dá para ficar  calado.  Quanto às manifestações, eu acho que alguma mudança positiva e  eficaz, principalmente em relação à classe política, somente poderá acontecer a  partir do momento que o povo souber se manifestar nas urnas e exigir planos de  ações e que sejam postos em prática.

Nelzimar – Recentemente, você ministrou uma palestra a convite de uma escola  da rede particular de ensino para falar de seu envolvimento com a poesia, as  trovas e a música. Como você analisa o processo de ensino e da arte nas  escolas?

Neto – Vejo que esse processo tem sido bastante discutido por parte de  alguns professores, uma vez que a partir da disciplina Artes Visuais já ampliou  bastante a difusão dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Mas a realidade é  que ainda há um enorme distanciamento por conta do pequeno número de  profissionais especializados na referida área e atuação nas escolas, para  despertarem os alunos e desenvolverem as vertentes culturais, principalmente  nas escolas públicas. É visível essa carência, apesar de muitos talentos  adormecidos. Assim como falta na área de esporte, por ex., uma pista de skate  para a garotada que tem afinidade com esse esporte, e que reclama por ter que  só praticá-lo à noite e na rua porque é a única via ou espaço vazio que  encontra. Da mesma forma acontece com relação à lei 11.769/08 que determina que  a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica, mas sabemos  que  isso não tem sido posto em prática na grande maioria das escolas,  principalmente nas escolas públicas que, infelizmente, são tantos os problemas  para serem resolvidos que muitos nem lembram da referida lei.

Confira o vídeo musical gravado e postado no Youtube.

Reportagem/ Nelzimar Lacerda

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