Moradores de cidades da região na alarmante estatística de suicídios; psicóloga fala sobre sinais de depressão

O assunto é delicado e ainda é considerado um tabu. Mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos poderiam ser evitados com ajuda psicológica, o que evidência a necessidade do diálogo sobre o tema

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Foto: Arquivo pessoal

A semana começou de forma triste na região. No mês que acontece a campanha Setembro Amarelo, onde são desenvolvidas atividades de prevenção ao suicídio, dois moradores da região entraram para essa alarmante estatística. Na segunda (13) foram registrados dois casos de suicídio na região, sendo um idoso de 75 anos em Frexeiras, Cambuci, e uma mulher de 33 anos, em Valão do Barro, São Sebastião do Alto. Ambos com sinais de enforcamento. O assunto é delicado e ainda é considerado um tabu. Mas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos poderiam ser evitados com ajuda psicológica, o que evidência a necessidade do diálogo sobre o tema.

“O preconceito contra a depressão continua mais resistente e nocivo do que a própria doença. Isso mesmo entre pessoas supostamente esclarecidas – que inclusive sabem o quanto o depressivo sofre com o estigma de preguiçoso, acomodado e derrotista” – destaca Sheila Silva Mota Nobre, psicóloga, neuropsicopedagoga, pós-graduada em psicologia perinatal e graduanda em neuropsicologia.

A psicóloga frisa que segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) a desinformação é imensa entre os jovens, exatamente o grupo cuja taxa de suicídio vem aumentando nos últimos anos. “Idade em que o bullying acontece nas escolas, igrejas, grupos sociais e até mesmo na própria família. A família deve ajudar passando confiança e mostrar que você entende, (ou procurar entender, se importar) ajuda muito. Sentar para conversar e falar abertamente, encarando a depressão como uma doença real, tudo isso ajuda para que seja demonstrado para a pessoa que alguém realmente se importa e traz a sensação de acolhimento. Como também a família precisa encorajar a pessoa a procurar ajuda” – explica.

Sinais e sintomas
A sensação persistente de tristeza ou perda de interesse que caracteriza a depressão pode levar a uma variedade de sintomas físicos e comportamentais, de acordo com a psicóloga. “Estes podem incluir alterações no sono, apetite, nível de energia, concentração, comportamento diário ou autoestima. A depressão também pode ser associada a pensamentos suicidas” – afirma. As pessoas podem ter ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, desesperança, mudanças de humor, perda de interesse, perda de interesse ou prazer nas atividades, solidão, tristeza, tédio ou sofrimento emocional; agitação, automutilação, choro excessivo, inquietação, irritabilidade ou isolamento social; despertar precoce, excesso de sonolência, insônia ou sono agitado; falta de concentração, lentidão durante atividades ou pensamentos suicidas; ganho de peso ou perda de peso; fadiga ou fome excessiva; além de abuso de substâncias, falta de apetite ou repetição incessante de pensamentos.

Já sobre o que leva alguém a ter a doença, a psicóloga explica que a depressão normalmente é causada por alguma situação perturbadora ou estressante que ocorre na vida, como morte de um familiar, problemas financeiros ou divórcio. No entanto, também pode ser provocada pelo uso de alguns remédios, ou em caso de doenças graves, como câncer ou HIV, por exemplo. “A depressão pode tanto surgir sem motivo aparente como ser a consequência de um evento importante, como divórcio, falência, perda de emprego ou morte de uma pessoa próxima. Estes acontecimentos são os chamados gatilhos: eles desencadeiam sentimentos de tristeza e, em certos casos, depressão” – disse.

Como ajudar
Quando alguém que você conhece e ama está clinicamente deprimido, você quer estar presente para essa pessoa. “Ainda assim, tenha em mente que seu amigo ou ente querido tem uma condição clínica séria. Ou seja, dar apoio pode significar mais do que apenas oferecer um ombro para chorar. Muitas coisas podem ser feitas para que os indivíduos em quadros depressivos sintam-se melhor. Porém, o mais importante, é termos a consciência de que o cuidado psicológico e muitas vezes psiquiátrico é fundamental para que esses indivíduos se recuperem” – destaca a psicóloga.

Ela frisa que é importante compreender que a depressão é uma condição clínica que requer cuidados médicos e psicológicos. “Como um membro da família ou amigo, você pode ouvir a pessoa e dar o seu apoio, mas isso pode não ser suficiente” – afirma. “Quando alguém sofre um acidente e quebra uma perna, rapidamente levamos esta pessoa para um hospital. Quando alguém tem depressão, este indivíduo também precisa de cuidados médicos e psicológicos. Recomende a visita a um psicólogo, busque profissionais da sua confiança e incentive seu ente querido a se cuidar” – orienta.

Falar sobre depressão também é importante. “Deixe-os saber que você e outros se preocupam com eles e estão disponíveis para apoio. Ofereça-se para encaminhá-los para um tratamento ou, se eles quiserem falar com você sobre como eles estão se sentindo, saiba ouvir. Acolha, escute ativamente e esteja atento” – enfatiza a profissional. Segundo ela, este acolhimento pode reduzir o risco de suicídio. “Ouça atentamente os sinais de desesperança e pessimismo, e não tenha medo de chamar um psicólogo ou mesmo levá-los para uma clínica ou hospital, se a sua segurança estiver em questão” – salienta. Manter contato, ligando ou visitando também é necessário. “Não deixe de convidá-la para se juntar a você em atividades diárias. Pessoas que estão deprimidas tendem a ficar isoladas porque não querem “incomodar” outras pessoas. Talvez seja necessário ser enfático e trabalhar mais duro para apoiar e envolver alguém que esteja deprimido.

Atividades que promovem um sentimento de realização, recompensa ou prazer são diretamente úteis para melhorar a depressão. Escolha algo que a pessoa ache interessante. Ainda assim, tenha em mente que eles podem não se sentir interessados na atividade imediatamente. Rotinas que promovem o exercício, nutrição e uma quantidade saudável de sono são úteis” – afirma. De acordo com a psicóloga, uma pessoa deprimida pode perguntar: “Porque você se preocupa comigo? Porque eu deveria sair da cama hoje?” Você pode ajudar a responder a essas perguntas e oferecer um reforço positivo. “A introspecção depressiva e a passividade podem ser reduzidas através de um incentivo. Trabalhe para estimular um sentimento de recompensa ao atingir pequenos objetivos. Pontue e elogie pequenas realizações diárias – até mesmo algo tão simples quanto sair da cama. Entenda que depressão não é frescura, tristeza ou preguiça… Depressão é uma doença e precisa ser tratada por profissionais qualificados” – destaca.

Sheila Nobre já atuou como psicóloga clínica em ambulatório de saúde mental e no CAPS municipal, Pestalozzi e clínica particular. Atualmente ela atende em São Fidélis na Clínica São Mateus e em Campos na Clínica Famille. O contato dela é (22) 9-9985-4776 e o Instagram @sheilamota_psic.

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