Hoje 29-03-2016 completa 13 anos de uma dos maiores acidentes ambientais do Brasil. Em 29 de março de 2003 uma barragem de rejeitos industriais se rompeu no município mineiro de Cataguases. O caso que ficou conhecido como “acidente de Cataguases” aconteceu na Fazenda Bom Destino, que fica há 13 quilômetros da área urbana daquele município.
Com o rompimento da barragem, 900 mil metros cúbicos de rejeitos industriais, um licor negro – material orgânico constituído basicamente de lignina e sódio – foram lançados na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. O abastecimento de água foi interrompido por mais de uma semana em diversas cidades ao logo dos rios Pomba e do Rio Paraíba do Sul, como Santo Antônio de Pádua, Itaocara, Cambuci, São Fidélis e Campos.
Na época, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que a causa do rompimento em Cataguases foi a falta de manutenção do barramento.
Para o pescador Domingos José Afonso, conhecido como “Dominguinhos pescador”, mesmo depois de tanto tempo, pescadores de São Fidélis e região continuam sofrendo com os impactos causados pelo acidente. Houve uma grande diminuição em várias espécies de peixe.
“Pra mim não foi acidente. Acho que é um crime. Quando vamos fazer alguma coisa, temos que ver os dois lados da moeda. Saber que você está construindo alguma coisa e que pode se romper, e não fazer nada, é um crime”.
Há 23 anos Dominguinhos faz palestras e trabalhos em parcerias com projetos ambientais para recuperar espécies do Rio Paraíba, como o Projeto Piabanha. “Aquilo matou muito peixe pela falta de oxigênio. Foi uma barbaridade. Na minha época de jovem, a gente pegava um Dourado com 3kg e soltávamos ele porque ainda era filhote, mas hoje em dia, algumas espécies estão desovando mais cedo para não morrer”.
Dominguinhos conta que saiu para pescar com um afilhado e que os dois jogaram dez peças de rede no Paraíba, mas só pegaram três peixes, sendo uma Tilápia, um Curumatã e um Caximbau. “A tendência é acabar cada vez mais. Me preocupo com o que ainda pode acontecer. Me preocupo com o Paraíba, pois ele é muito importante para São Fidélis”.
Nossa equipe também conversou com o professor e ambientalista Arthur Soffiati. Ele lembra que antes e depois de Cataguases aconteceram outros acidentes, como o de uma empresa de metais, a Paraibunas Metais, em 1982, Miraí em 2007 e por último, o da Servatis.
“Acho que esses acidentes todos mostram a vulnerabilidade da bacia. Não sabemos se ocorrerá outro acidente e de onde virá. A bacia é como um campo minado. De repente, uma mina explode. Os órgãos ambientais deviam nos dar segurança, mas só nos dão insegurança. Eles são tolerantes com as empresas porque eles geram lucros para a União, estados e municípios”.
Soffiati diz que as espécies desaparecem por causa da poluição, da introdução de espécies exóticas e da pesca predatória. Para ele, ainda é possível afirmar que o veneno continua prejudicando os pescadores. “Não há os devidos estudos. Supõe-se que a matéria poluente vá para o mar, mas uma parte vai para o fundo e compromete os micro-organismos, base da cadeia alimentar. Sem ela, as espécies começam a se tornar raras”, concluiu o ambientalista.
Já para Dominguinhos, o veneno continua no fundo do rio. “Ele aparece a cada mexida que o rio dá.” Nossa equipe não conseguiu contato com nenhum representante da Indústria Cataguases de Papel, responsável pela barragem que atualmente se encontra desativada.
“Esse rio é minha propriedade. Sem divisa e sem porteira. Foi desse rio que eu tirei o pão pra criar minha família. Foi desse rio que tirei a educação que dei aos meus filhos. Fiz parceira com a natureza e deu certo. Eu luto e morro por esse rio”, concluiu Dominguinhos.